O consumo de substâncias psicoativas (álcool, tabaco, cocaína, maconha) sempre existiu na história da humanidade; em praticamente todas as culturas e povos encontram-se referências ao uso de substâncias, variando somente a quantidade, o tipo e a forma de consumo. Nas últimas décadas, o consumo de substâncias psicoativas lícitas e/ou ilícitas tem se apresentado como um grave problema de saúde pública, associado ao aumento da morbimortalidade, especialmente entre a população mais jovem. 

Os prejuízos associados ao uso/abuso de substâncias são inúmeros (físicos, mentais, sociais) e atingem tanto o usuário quanto familiares e pessoas próximas; não raro, os prejuízos são percebidos tardiamente pelo usuário. Quando o uso de substâncias torna-se crônico, tem-se a condição denominada dependência química, considerada um transtorno mental complexo, multifatorial e tratável. 

A dependência química caracteriza-se por um padrão de consumo compulsivo da substância psicoativa, ou seja, uso repetido e sistemático da substância associado à percepção de perda de controle sobre o uso. Ainda, observa-se a necessidade de doses crescentes da substância para obtenção dos efeitos originalmente obtidos em doses mais baixas; estreitamento/ empobrecimento do repertório, ou seja, os esforços são direcionados para a obtenção e uso da substância, mesmo que isso signifique, por exemplo, abdicar de funções sociais importantes e até mesmo abandonar cuidados com as necessidades básicas; e síndrome de abstinência, que se caracteriza por sinais e sintomas físicos e/ou psicológicos de intensidade variável associados à ausência da substância. De um modo geral, o indivíduo portador deste transtorno apresenta perdas funcionais globais que tendem a se intensificarem na ausência de tratamento especializado. Infelizmente, não é incomum que a busca por tratamento ocorra depois de anos de uso da substância, quando as perdas produziram danos significativos.

Não raro, a dependência química está associada a outros transtornos psiquiátricos, tais como transtornos de humor, transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade, entre outros, tornando o quadro ainda mais complexo. Quando da existência de comorbidades, o tratamento deve considerar o cuidado integral.

O tratamento da dependência química tende a ser longo e envolver equipes multidisciplinares, tanto para o indivíduo quanto para familiares. Dentre as principais abordagens terapêuticas estão o manejo farmacológico; as intervenções psicoterápicas, em especial, aquelas baseadas nos modelos cognitivos-comportamentais; os grupos de mútua ajuda; as internações em comunidades terapêuticas e em hospitais. Salienta-se que não existe um modelo único para o cuidado; nesse sentido, cada indivíduo deve ser visto em sua singularidade, sendo de fundamental importância que o plano terapêutico esteja adaptado conforme as particularidades individuais visando, em linhas gerais, a compreensão do transtorno, o reconhecimento dos fatores de risco e proteção, o resgate da autonomia e a ressignificação das experiências.

Graciela Gema Pasa
Psicóloga CRP 07/20344